9.5.06

 

Um Iberista no Governo de Portugal

Neste último fim-de-semana, vieram a lume notícias que, pela sua gravidade, deveriam ser urgentemente esclarecidas pelo Governo.

À cabeça delas, está a das declarações inauditas de um Ministro português, o dos Transportes, Mário Lino, que, na Galiza, em território espanhol e discursando para espanhóis, se confessou um convicto iberista, partidário da junção dos dois estados existentes na Península Hispânica e, ainda levou mais longe o seu desconcerto, ao afirmar que Portugal e Espanha têm uma história e língua comuns.

Isto é grave e não pode passar sem reparo. Se o Governo a que este Ministro pertence fosse dirigido por alguém com verdadeiro sentido de dignidade patriótica, a esta hora Mário Lino estaria ou a retractar-se de tais dislates ou, se se recusasse a fazê-lo, estaria inexoravelmente demitido.

Como se pode tolerar que um Ministro de Portugal defenda a diluição do Estado soberano que representa numa nova associação política com o Estado que, historicamente, sempre constituiu ameaça à independência de Portugal, Estado esse que, ainda hoje, mantém na sua posse um pedaço de território português, em completo desrespeito de tratados internacionais que há muito o intimaram a restituir o território esbulhado ?

Como se compreende que um Ministro português, tendo jurado desempenhar com lealdade as funções que lhe foram confiadas, no quadro constitucional vigente, advogue posições que enfraquecem e comprometem a soberania portuguesa ?

Num momento em que as várias nacionalidades espanholas tentam obter do Governo Central de Madrid alargamentos cada vez maiores da sua autonomia regional, nalguns casos, como na Catalunha e no País Basco, visando mesmo abertamente a separação política, noutros, como na Galiza, com menos ímpeto, mas com igual desejo, como se pode aceitar que um Ministro de Portugal desvalorize aquilo que múltiplas gerações de seus compatriotas, esforçadamente, em decisivos momentos históricos, lograram conquistar, com elevado preço de sangue ?

Quero crer que o súbito desvario do Ministro Mário Lino não deixe de causar vivo repúdio no País.

Se, por absurdo, tal não acontecesse, pelo menos entre os sectores da população mais conscientes, algo exaustos, mas ainda não sucumbidos, seria sinal de que profunda doença teria já minado o desgastado corpo desta velha Pátria, outrora designada de mui nobre e valente Nação, aquela que, há quase 600 anos, daqui saiu nas Caravelas, em busca da aventura, desafiando o vasto Mundo, então de bem poucos conhecido.

Miremo-nos hoje, de novo, no seu exemplo de coragem e perseverança, para rasgarmos este espesso manto de negrume que paira em nosso redor, que nos tolhe os movimentos, que nos impede de progredir, de recobrar a nossa antiga e sempre saudada dignidade.

Mas, para isso, caríssimos concidadãos, mister se torna arredar, neutralizar aqueles que mal nos representam, que nos desonram com as suas atitudes levianas, inconscientes, indignas das missões que lhes foram confiadas, ainda que a coberto de uma legitimidade formalmente democrática.

AV_Lisboa, 09 de Maio de 2006

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